A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê

 Passei o final de semana em Salvador e lembrei de quando eu li “A Vida e as Mortes de Severino Olho de Dendê”, um dos livros finalistas do Prêmio Jabuti de 2023. Eu tinha certeza de que precisava reler ‘Morte e Vida Severina’ para aproveitar ao máximo a história que Ian Fraser propunha. Apesar de conseguir identificar várias referências à obra de João Cabral de Melo Neto, na verdade, eu precisava de uma aula de Baianidade. “Tem lição que só se aprende vivendo na pele.” (p.8)

Assumo, não sou letrada em Bahia e por isso levei tanto tempo para conseguir assimilar a sub-história que foi contada. Não falo do enredo, mundo distópico, detetive, investigação, crimes. Falo do cheiro do dendê, a brisa do mar, o sertão, do sotaque na voz, é dessa história que estou falando. Cada personagem trouxe um aspecto diferente da Bahia. Temos Severino, o Olho de Dendê. Ele quase morreu uma vez e então foi salvo, agora ele é meio homem, meio máquina e consegue ver o momento da morte de uma pessoa. Com esse superpoder, soluciona crimes e daí tira seu sustento, vivendo um dia de cada vez.

Mas quem tem um amigo tem tudo, então ele tem o Bonfim. Um puiuiú que para se diferenciar de tudo, amarrou fitinhas do Senhor do Bonfim em seu corpo, um tipo de Primo Coisa Soteropolitano. Isso só fez sentido quando olhei para as grades da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim cheias de fitinhas amarradas. Eu já tinha visto muitas igrejas, nenhuma igual àquela, acho que esse era o objetivo de Bonfim. Não tem conflito que essa dupla não resolva, mas ainda tem Antonieta Capitolina Macabéa, uma capivara humanoide que é investigadora, resolve conflitos familiares (não, não gostamos do pai dela) e vira a sinistrona de Cabula XI, além de sempre ter uma citação literária pertinente.

Ainda podemos falar de Filó, uma das Paladinas do Sertão, mulher arretada que não se compra com as meias palavras de Severino. 

Tem brigas, aerocarros cortando o céu em alta velocidade (só quem andou no trânsito de Salvador, sabe). Também tem referência musical, literatura de cordel e cultura pop. Tudo isso lindamente amarrado com um sotaque baiano, com palavras que só transbordam baianidade, é um oxente aqui, um barril dobrado acolá e no fim estamos completamente envolvidos nessa Ópera Espacial Nordestina.



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